quinta-feira, 21 de junho de 2012

DEUS LOUVA AS LIBÉLULAS

Publicado no "Jornal da Região", edição de 27 de Junho de 2012.

DEUS  LOUVA   AS  LIBÉLULAS



                                                                                      Roberto Vassallo

A natureza é sábia, pois providenciou para que cada exterminador tenha
o seu predador, a fim de que o equilíbrio seja constantemente mantido.
Quando, porém, o exterminador se prolifera descontroladamente, anomalias
tornam-se visíveis.
Desequilíbrios de toda ordem  estão cada vez mais frequentes na natureza,
provocados, ou por fatores espontâneos, ou pela interferência humana.
Entretanto, um ramo da ciência já admite abertamente que certos estados mentais coletivos podem desencadear convulsões meioambientais.
Por outro lado, as epidemias de dengue vêm ocorrendo por três motivos:
primeiro, em razão do aquecimento global; segundo, pela prevenção ina-
dequada; e por último, pelo descaso em identificar o(s) predador(es) na-
turais do aedes aegypti e reproduzi-los em ambientes devidamente monitora-
dos.
Caso não se lance mão do controle biológico imediato do aedes aegypiti, este
se tornará cada vez mais resistente aos produtos utilizados normalmente  no
seu combate.
Com efeito, todos os pássaros urbanos têm nos insetos sua principal fonte de
alimento, embora uma parte prefira frutas e vermes.
A andorinha, por exemplo, é uma das maiores devoradoras de mosquitos; jun-
to com o bem-te-vi e  os de sua  estirpe impedem sua multiplicação. Sem citar
o pardal, o joão-de-barro etc. Neste particular, o aedes aegypti não está fora do
seu cardápio.
A prova de que os insetos constituem o prato predileto dos pássaros metropoli-
tanos está em sua presença maior nas margens dos rios,  dos córregos, lagos, bre-
jos e nos terrenos baldios de mato crescido, onde sua infestação é mais intensa.
Todavia, o maior predador do aedes aegypti trabalha ativa e silenciosamente jun
to ao exército de devoradores de insetos. Sua ação contribui substancialmente pa
ra reforçar o batalhão de predadores naturais do causador da dengue: a libélu-
la. De globulosos olhos grandes e com seus dois pares de longas e transparentes
asas, voam velozmente rente à água.
A grande vantagem da libélula é a rapidez em sua mobilidade, além dos seus voos rasantes, como foi dito, principalmente quando se trata de perseguir o mos-
quito da dengue, cujo teto não ultrapassa os seis metros; portanto fora
do alcance das andorinhas que costumam planar nas alturas.
A fim de entendermos melhor a grande utilidade da jacina, como é também conhecida, no controle natural do aedes aegypti, vale ressaltar que, quando fecundada,  a fêmea deposita seus ovos em uma planta na água; na falta desta, simplesmente deixa-os cair no espelho dágua parada ou corrente, ou seja, exatamente no reduto do aedes aegypti.
Finalmente, a partir da eclosão dos ovos, o ciclo de vida da larva começa como uma ninfa(uma libélula adolescente e feia). Elas não têm asas e vivem no ambiente líquido por um período que pode durar quatro anos, ou mais , durante os quais passa por vários estágios de desenvolvimento.
Agora, o mais importante. Até a conclusão da metamorfose, as ninfas devoram tudo que estiver ao seu alcance : larvas de peixe, girinos, larvas de mosquitos, e por aí vai.
Pelo exposto, a criação de libélulas junto com o louva-a-deus, - outro caçador implacável de moscas e mosquitos, usando a emboscada como estratégia, facilitada pela sua enorme capacidade de camuflagem -, por meios artificiais, seria de grande valia na guerra sem trégua contra esse perigo  tropical, que volta e meia inferniza a vida da população, sobrecarregando os hospitais.
Mesmo com as estatísticas animadoras, o Rio está saindo de uma nova epidemia de dengue, tipo quatro.
Para devorar o aedes aegypti, no entanto, é óbvio que tanto a libélula como o  louva-a-deus  não fazem distinção tipológica, simplesmente os capturam  para saciar a fome.
Esse bichinhos do bem, na interpretação humana,- uma vez que bem e mal não existem na natureza, somente instinto -, seriam soltos em larga escala, mormente
nos locais onde a ocorrência da dengue é mais  acentuada.
Abro um parêntese para citar o guaxinim, outro predador insaciável de ratos, mormente quando está com cria. Sua introdução nas margens dos poluídos rios metropolitanos, com certeza ajudaria, e muito, no controle biológico dos roedores. Parêntese fechado.
Até onde se sabe, as libélulas não são alvos fáceis para certos pássaros, mesmo
porque são bem mais ágeis e velozes do que eles, embora também devam ter seus
inimigos naturais. Com a palavra os especialistas.
O louva-a-deus, de mobilidade mais lenta, pelo fato de medrar nas árvores, não
fosse o seu mimetismo mágico,  seria uma presa praticamente indefesa dos pássaros.
Pelo sim, pelo não, enquanto os laboratórios ingleses não liberam para nós as fêmeas esterilizadas artificialmente do aedes aegypti; e os pesquisadores brasileiros não espalham na natureza as larvas geneticamente modificadas, fazendo o mosquito da dengue nascer sem asas, as autoridades da saúde poderiam começar a pensar na criação imediata de libélulas e louva-a-deus em cativeiro. Além de mais barato, seria ecologicamente correto.
Enquanto tal não acontece, a população sofre e se defende como pode.

Roberto Vassallo  é jornalista e pesquisador.
Ex-integrante do Comitê de Defesa do Pantanal
Membro da Associação Protetora dos Animais

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